sábado, 13 de junho de 2015

VAMOS FALAR SOBRE O QUE NINGUÉM QUER FALAR?

Eu não tenho medo: DISCURSO DE TRANSGENERIDADE É ESTRATÉGIA PATRIARCAL DE CONTROLE, MEDO E SILENCIAMENTO DE MULHERES

Travestis e transgêneros têm reivindicado [e conseguido], cada vez mais e com mais força discursiva e política, o direito a espaços exclusivos conquistados com muita luta pelas mulheres que vieram antes de nós. Pequenos e parcos espaços dentro da sociedade patriarcal - que nos nega todos os espaços na sociedade porque precisa nos manter apenas escravizadas e limitadas ao espaço doméstico - que foram conquistados com muita luta para nos garantir alguma segurança diante de toda violência que somos vítimas nessa bosta: banheiros femininos, vestiários, prisões, categorias femininas organizadas, categorias femininas em lutas desportivas e em esportes... espaços que estão sendo violados por homens que afirmam que ser mulher é "se sentir" uma, que ser mulher é um "sentimento" e não uma condição material e histórica imposta pela sociedade patriarcal a pessoas que são identificadas por suas vaginas e experimentada desde o nascimento como violência sobre nossos corpos e limitação de nossas potencialidades, capacidades e sexualidade.


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Travestis e transexuais são socializados para reagir, para se defender com uso de sua força física, reagem, inclusive, contra agressões de outros homens; comumente, expulsam mulheres, por meio da força física e da coação, dos pontos de prostituição onde desejam se instalar, podem machucar fortemente até mesmo uma lutadora com um preparo físico que nenhuma mulher "comum" tem. Agora, imaginem a situação numa prisão, onde, inclusive, aqueles que nem foram operados, ou seja, que ainda podem estuprar, vão conviver com mulheres e disputar poder de forma ainda mais cruel e brutal do que em todos os outros espaços da sociedade em que a violência física e o estupro já são armas consagradas de coação e silenciamento de mulheres?

A socialização é o processo pelo qual se fundamenta o Sujeito/Sujeita das pessoas, é a forma como a pessoa é ensinada a ser "eu", a compreender a si mesma e ao outro. A socialização de pessoas que nascem com pênis, mais que uma socialização que as ensina a vestir certos tipos de roupas e cultivar determinada aparência física socialmente convencionada como masculina, é uma socialização que ensina essas pessoas a serem sujeitas de seus corpos, de suas subjetividades, de suas narrativas e discursos e, assim, autoriza, afirma e reafirma que essas pessoas podem produzir conhecimento e nomear a si mesmas e ao mundo como quiserem; uma socialização que as ensina a reagir diante de uma ameaça, porque ensina a elas que seus corpos e sua subjetividade são seus, lhes pertencem, e não são objetos do Sujeito do outro, portanto não podem ser violados; assim como ensina a elas que, na nossa sociedade misógina e falocentrada, por portarem um pênis, elas estão autorizadas a odiar, agredir, violar e matar mulheres, caso assim desejem. A socialização feminina é aquela que, mais do que determinar que roupas devemos vestir e como devemos nos aparentar fisicamente, ensina pessoas nascidas no sexo feminino que elas não são sujeitas de seus corpos, de suas subjetividades, de suas narrativas e discursos e, assim, que essas pessoas não podem produzir conhecimento e nomear a si mesmas e ao mundo como quiserem, mas que devem se submeter as nomeações e aos sentidos que os homens dão ao mundo e a elas; que as ensina a não reagir diante de uma ameaça, mas a temer e a não desafiar o seu algoz, porque ensina a elas que seus corpos não são seus, não lhes pertencem, mas são objetos do Sujeito do outro, do Sujeito falocentrado, e portanto podem ser violados e objetificados; que ensina a elas que, na nossa sociedade misógina, são elas que são passíveis de serem odiadas, agredidas, violadas e mortas, independente de suas vontades, já que são objetos do sujeito do outro, e não sujeitas de si mesmas.

Travestis e transmulheres possuem fisiologia masculina e recebem socialização destinada a homens, ou seja, socialização para serem sujeitos de si e para introjetarem misoginia em relação às mulheres e objetificá-las.

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A SOCIALIZAÇÃO EXISTE e ela não falha.

Vamos fingir que não estamos vendo isso, que não entendemos isso, que não tememos isso, que não queremos isso? Vamos fingir, mais uma vez, e como sempre, que não corremos riscos, que não estamos sendo privadas e violadas? Vamos fingir, mais uma vez, e como sempre, que não estamos passando por isso tudo e permanecendo em silêncio por medo de desagradar os homens e não ter o reconhecimento deles de que somos boas mulheres? Por medo de enfrentá-los, de aborrecê-los, de sermos insubmissas e não ganhar o reconhecimento e a empatia deles? Vamos nos por em risco, perder espaços, nos privar de dizer e nomear a nós mesmas por medo de não sermos boas mulheres, de não sermos silenciosas e obedientes como o patriarcado espera? Vamos fingir que não estamos com medo e em silêncio porque um grupo de pessoas socializadas numa sociedade falocentrada e misógina para ter poder sobre nós está nos dizendo que não podemos ter espaços exclusivos e não podemos nomear a nós mesmas porque são eles que irão fazer isso a partir de agora porque "se sentem" como nós? Não esqueçam: o medo e o silenciamento são as estratégias mais antigas do patriarcado contra nós.

Veja bem, não negamos que pessoas consideradas transexuais sofrem violências e opressões, não negamos a essas pessoas o direito a autorganização e protagonismo em suas lutas, não negamos o direito a essas pessoas de não serem mortas, agredidas, estupradas, sexualmente exploradas (até porque, quem somos nós, mulheres, pra sermos capaz de negar ou autorizar alguma coisa a qualquer categoria de gentes, né?) - NÃO SOMOS NÓS, MULHERES, que negamos esses direitos a essas pessoas, que as agredimos, espancamos, matamos, exploramos, SÃO OS HOMENS! O que nós, mulheres, negamos a essas pessoas é a nossa autorização para que elas definam e pautem o que é ser mulher e pare que acessem nossos espaços conquistados a duras penas na sociedade patriarcal, e negamos isso justamente porque esse direito É NOSSO e nos vem sendo negado há milênios pelo patriarcado, e por isso mesmo - e não por outro motivo - o feminismo foi criado.

Negar a autorização a transmulheres para definirem o que é ser mulher e não permitir a elas acessar espaços exclusivos femininos NÃO é ser "contra a luta das pessoas trans", é ser a favor do direito, da voz, da segurança e do protagonismo das mulheres. Ser mulher não é um "sentimento", é uma CONDIÇÃO ESPECÍFICA, VIOLENTA E LIMITADORA imposta por homens e pela sociedade patriarcal a pessoas identificadas como mulheres por seu sexo feminino para que possam ter sua subjetividade, sua sexualidade, seus corpos e suas capacidades reprodutivas dominadas e exploradas para gerar poder e riqueza para os homens.

O "sentimento" dos homens NÃO pode ser mais importante que a segurança das mulheres - e quando isso acontece, não se chama feminismo, se chama PATRIARCADO.


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