Sim, há anos eu choro "sem motivo" aparente, sinto uma tristeza profunda, tenho vontade de não sair da cama, não vejo razões pra viver, há anos eu sinto uma tristeza profunda e contundente, que me dói fisicamente e até a alma, há anos eu tenho vontade de morrer, eu imagino situações sobre minha própria morte e sobre a paz e o descanso que isso poderia me trazer. Há tempos em que melhora, outros em que mal consigo me entender como ser humano, como gente. Há tempos em que algumas alegrias cotidianas aplacam o sentimento ruim, há tempos em que todas as alegrias cotidianas não são suficientes pra me fazer ter vontade de seguir. Desisti de estudar, larguei o mestrado, não terminei os cursos que comecei, abandonei a dança, não me matriculei em diversos cursos que tenho vontade de fazer, nunca me senti capaz de estudar e aprender música, coisa que sempre gostei, deixei de investir em mim e minhas potencialidades - exatamente como fui ensinada pelo patriarcado a fazer. A depressão é assim, não é?
Mas há um outro dado importante sobre isso. Eu vou lutar, mas faz parte da minha luta não deixar que me mediquem. Eu me recuso a ser medicada. Eu me recuso a ser domesticada por drogas que pretendem me manter anestesiada da realidade e da história que me adoeceu, da causa da minha doença, eu me recuso a deixar que me digam que eu não preciso enfrentá-la de frente e sóbria. Por anos, mesmo sem me dar conta, eu tenho enfrentado a depressão sóbria, e assim vou seguir. Sóbria, acordada e totalmente consciente sobre o que me adoece.
Nenhuma droga de idiotizar a reflexão, silenciar, resignar e domesticar mulheres vai servir pra me tratar disso. Meu tratamento é minha luta, minha consciência e meu enfrentamento.
Tampouco me interessam as psicoterapias e as psicoanalises patriarcais que pretendem me fazer sentir resignada sobre a culpa e a responsabilidade que eu também carrego por ter sido abusada, violada, negligenciada e desprezada por patriarcas abusadores.
Eu vou sobreviver. Porque estar totalmente ciente e plenamente acordada sobre tudo isso e, ainda assim, me manter viva e tentando ser feliz é minha resposta a essa violência toda. Não vão me domesticar, me anestesiar e tampouco me matar.
Fodam-se todos os patriarcas. Sou uma sobrevivente, estou viva, alerta e resisto!
Quero agradecer à Natacha Orestes, por todos seus escritos, e especialmente por este:
4 coisas que aprendi sobre depressão crônica parindo sem anestesia
que me ajudou a compreender melhor minha relação com a depressão.