sexta-feira, 5 de junho de 2015

ESQUERDOMACHOS

Curioso o comportamento desses anarcomachos, marxchistas, machos libertários e esquerdomachos. Os cara são casados cas mulheres há 1, 2, 3 décadas, desenvolvem trabalho, militância, criam projeto, nome, legado, tudo junto, chama de minha compa, minha companheira - e ser companheira é mais, muito mais, que ser 'mulher de', que ser 'esposa', ser companheira é dividir a vida, em sua dimensão política, e não só no espaço doméstico, em que o patriarcado coloca as mulheres-esposas e suas relações com seus homens: ser companheira é a única ínfima chance de romper com isso. Uma relação de companheirismo não se inicia e nem se encerra no amor romântico e nos requisitos estabelecidos para o reconhecimento e legitimação do amor romântico pelo Estado e pela sociedade burguesa, uma relação de companheirismo permanece para além do fim dessas instituições: ela tem uma história, um legado, produziu frutos, outros estabelecidos, ou assim deveria ser. Mas não é.
Frequentemente, vejo mulheres que estabeleceram o companheirismo com seus amantes, a quem se dedicaram, e que muitas vezes abriram mão de suas carreiras, trabalho, estudos, pra cuidar dos filhos dessa união, porque, sim, sempre recai sobre a mulher a maior responsabilidade sobre as crias e sobre a vida doméstica do casal - mesmo entre os casais mais libertários -, sempre vejo essas mulheres, ao fim de seus relacionamentos, impelidas [não à força, mas pela força simbólica do machismo, daquele mais velado, que somente nós, mulheres, sentimos e somos capazes de apontar] a abandonarem os espaços de militância, construídos conjuntamente, as atividades, os pequenos louros e vitórias colhidos juntos, a decaírem em seu prestígio, a serem obrigadas a começar, tudo de novo, praticamente do zero, uma trajetória traçada junto, que vai sendo apropriada, pela força do poder masculino: do ex-amante e de todos os homens que construíram e que mantém e legitimam esses espaços.
Não sendo isso ainda o suficiente, é, quase sempre, a regra, ver essas mulheres completamente destituídas de bens materiais mais básicos pra seguir a vida e conseguir seguir na militância também. Geralmente, tendo elas adiado seus trabalhos, estudos, carreiras e sonhos para cuidar dos filhos, enquanto seus amantes seguiram em frente com todo aparato que elas puderam lhes proporcionar para que alavancassem seus planos, essas mulheres terminam as uniões sem emprego e, tendo estado tanto tempo afastadas do mercado de trabalho, sem redes de contato, com competências defasadas e com imensa dificuldade de conseguir empregos. E cadê seus companheiros? Aqueles mesmos que chamam os camaradas, amigos, colegas de militância, duros, sem grana, pra beber por conta, em nome da solidariedade de classe, da solidariedade humana, da luta política; aqueles que cedem sua própria casa por meses a fio, com todas as despesas incluídas, pro amigo homem, que, vindo da militância de outro estado, ainda não construiu suas redes de trabalho aqui e mal tem como se sustentar; aquele mesmo que doa dinheiro todo mês pro partido, pro coletivo, pra organização; aquele que consegue emprego pro camarada desempregado; aquele que, fazendo jus a sua tradição de luta, divide o pão e o ar com outros homens que estão na mesma frente de combate que ele; cadê esse homem, quando a sua ex-companheira, que caminhou a seu lado por anos, décadas, que construiu com ele todo seu legado e toda sua importância, que cuidou dele, dos filhos dele, que adiou indeterminadamente seus sonhos para que seu homem pudesse seguir os dele, e que agora está desempregada, fodida de grana, sem condições de voltar a estudar, cadê seu companheiro de luta nessa hora?
Porque eu só vejo mulheres abandonadas por sujeitos que são companheiros de todo mundo, menos daquelas que se mantiveram firme em suas frustrações e decepções pra que esses homens se tornassem o que são hoje.
Sejam menos canalhas, homens, nós não aguentamos mais vocês e seus horrores.
Mulheres de guerra, vocês são maravilhosas. Contem comigo, sempre. Não baixem a cabeça, vocês são mais, muito mais, imensamente mais revolucionárias do que qualquer homem. 

Emoticon heart


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Aqui você tem voz, mulher! Diga o que quiser!