sábado, 20 de junho de 2015

SOBRE O AMOR NAS SOCIEDADES PATRIARCAIS

Quando nos impõe a maternidade compulsória e nos socializa para o cuidado e a abnegação, o que a sociedade patriarcal nos ensina é a culpa. Quando nos ensina que a função e as características mais importantes e mais belas da mulher são a maternidade, a generosidade e o cuidado acima de tudo, acima até de si mesmas, ela nos ensina isso para que tenhamos culpa, para que não tenhamos coragem de abandonar nossos homens, nossos irmãos, pais, maridos, filhos, para que a gente sinta culpa cada vez que pensemos em deixá-los, odiá-los, desprezá-los por seus feitos e suas violências, para que tenhamos culpa por pensar em nós mesmas, em nossa integridade, em nossa segurança acima de tudo, e em nós mesmas como todas vítimas das perversões deles, e para que permaneçamos, assim, a seus lados e em suas defesas enquanto sua classe comete todas essas atrocidades contra nós. E assim nós permanecemos, e passamos a eles a falsa mensagem de que os amamos, apesar dos seus feitos horrorosos - e eles se sentem, desta forma, autorizados a fazê-los, a continuar fazendo. Mas o que nós, na verdade, sentimos é medo. Todas nós. Porque fomos socializadas e educadas, desde a infância, desde a estruturação de nossas sujeitas, e por gerações e gerações, a temê-los e a permitir a vocês nos fazerem crer que somos menos sábias, menos capazes, inferiores a vocês, e que, portanto, vocês precisam nos ensinar tudo; e assim nos ensinam que devemos entender que esse temor que sentimos é amor e desejo, quando, na verdade, isso é e sempre será o mais puro, profundo e genuíno medo.

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