segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

SOBRE ARTE, GOSTOS E PATRIARCADO

Sabe por que a gente vê violência contra nós de todo tipo, violência discursiva, simbólica, material, moral, psicológica, na tv, na publicidade, na música, na literatura, no cinema, no teatro, enfim, em todas as grandes obras dos homens considerados "gênios" pelo patriarcado, e muitas de nós nem percebem essa violência e outras ainda percebem, mas acham que dá pra tolerar porque tem "partes aproveitáveis" ou porque tem que "separar o artista da obra" e, ainda sim, continuamos gostando desses artistas, consumindo suas obras, reproduzindo suas produções [e seus valores, por conseguinte]?

Porque não nos concebemos como seres humanas, nos concebemos a nós próprias como o segundo sexo, como objeto do sujeito masculino, apenas concebemos nossa existência a partir do macho e daquilo que ele define sobre nós. Nós não reconhecemos em nós mesmas a nossa humanidade e, portanto, somos incapazes de reconhecer essa humanidade também em nossas semelhantes, por isso achamos relevante e tolerável ver outras mulheres sendo avacalhadas, achincalhadas, diminuídas, inferiorizadas, prostituídas, humilhadas, agredidas, estupradas e mortas e continuamos achando razoável estabelecer motivos pra amar esses artistas e suas produções. A rivalidade feminina cumpre um papel fundamental aí: apartadas umas das outras, sem reconhecer uma nas outras - e em nós mesmas - nossa humanidade, podemos ser facilmente convencidas por homens que, apesar de mulheres terem sido representadas por eles nas artes durante todo o desenvolvimento de nossas sociedade de uma maneira limitada, inferior, desumanizada, nós podemos ser diferentes dessa representação, melhores que ela, especiais, justamente se, dentre outras coisas, aprendermos com homens a apreciá-las, a apreciar as artes, as representações, os discursos violentos e limitadores que eles criam sobre nós, a tolerar, relevar e reafirmar a condição desumana daquelas que são representadas, das quais somos convencidas a crer que não se parecem conosco, porque nós somos especiais, estamos acima delas, justamente por que recebemos a aprovação e a aceitação de um [ou alguns] homens por adulá-los, por aceitar o que eles produzem sobre nós.

Se mulheres tivesses produzido a metade da quantidade de obras que homens produziram nos representando de forma torpe e objetificada com representações de igual teor sobre o sexo masculino, sobre homens e sobre a masculinidade, nossa sociedade já teria entrado em colapso e, provavelmente, os homens mandariam destruir e queimar toda essa produção com uma justificativa tão esdrúxula quanto convincente, que toda a sociedade ia apoiar. E veríamos milhares de livros, peças publicitárias, músicas, peças de teatro, rolos de filmes de cinema sendo censurados, tirados de circulação, destruídos, queimados, apagados da História e da Memória de nossa sociedade - com ampla conivência da sociedade.

Mas vá nós, mulheres, criticar radicalmente as produções artísticas masculinas e dizer que, como obras criminosas contra nós mulheres, não poderiam sequer ter sido concebidas um dia, vá criticar seus autores, e veja o que acontece. Todos se voltam contra nós. Inclusive as próprias mulheres.

E quando a gente fala pra mulheres que elas precisam parar de consumir esses lixos misóginos que o patriarcado convencionou chamar de "geniais", "sétima arte", "literatura universal", "cânone" e outras baboseiras que supervalorizam a misoginia óbvia dessa sociedade, elas se revoltam, criam discursos de autoproteção baseado em seus afetos e gostos pessoais - que são justamente os discursos que nos mostram que elas mesmas não se veem como seres humanas e, portanto, não são capazes de reconhecer a humanidade em outras mulheres, no sexo feminino, e só são capazes de seguir crendo ser razoável idolatrar ou ter algum afeto pelo discurso e por artistas que nos retratam de maneira objetificada e desumanizada simplesmente porque "eu gosto" ou porque "eu não consigo não gostar".

Se as mulheres tivessem a exata dimensão do quanto os homens nos odeiam e de como a forma como nos representam em suas artes é cruel e violenta e define e concebe a nossa existência nessa cultura patriarcal, já estaríamos, ao menos, começando a pensar que não é tão absurdo assim o que eu tô dizendo aqui e que não há nada de mal ou de absurdo em mulheres pedirem a outras para que parem de idolatrar e consumir esses artistas e suas obras.

Revejam seus gostos, reconstruam suas bibliotecas, seus gostos artísticos, musicais, reelaborem seu conceito de arte. Misoginia NÃO É ARTE.



Vejam o vídeo: "Passionate Dialogue" no Facebook ou no Vimeo, de Jan Svankmajer, um macho que faz uns vídeo super bizarro, violento e grotesco, pura representação e celebração da cultura e do regime heterossexual e da violência masculina. Obviamente, um macho super valorizado e superestimado pelo patriarcado.

Quantas conseguem enxergar a violência heteropatriarcal desse vídeo e sentir repulsa por ele e compaixão pela nossa classe nele representada?

Quantas pessoas vocês acham que me consideram louca, exagerada e histérica pelo que estou criticando aqui e não considerariam da mesma forma um homem no caso suposto do terceiro parágrafo do texto, por exemplo?


-2:46

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

LUIZ COPPIETERS, O TRANSATIVISTA MISÓGINO E LESBOFÓBICO AGORA É PORTA-VOZ DE DIREITOS HUMANOS DO FACEBOOK.

Luiz Coppieters, o travesti da USP, e seu séquito falocentrado, se reuniu com a equipe do Facebook pra ditar as regras do ativismo virtual nessa rede. Isso mesmo: um homem fetichista, misógino e lesbofóbico, a quem foi concedido espaço e voz por uma grande empresa para ditar os rumos da militância virtual, inclusive de mulheres e lésbicas.

Luiz, que prefere ser chamado de Luiza, se afirma "mulher trans lésbica" (lembrando que lésbicas NÃO possuem pênis e que lésbicas NÃO se relacionam com pênis, e que coagir lésbicas a manter relações sexuais com pênis configura ESTUPRO CORRETIVO), embora seja apontado frequentemente por mulheres lésbicas por seus episódios misóginos e lesbofóbicos nas redes sociais, virou porta-voz das mulheres e das lésbicas em reunião com empresários responsáveis pelo Facebook.

[Veja aqui e aqui  as manifestações misóginas e lesbofóbicas de Luiz e as críticas das mulheres a ele e veja as cartas de repúdio, aqui e aqui. Leia também sobre o poder do macho e a ideia masculinista, misógina e lesbofóbica de que pode existir pênis lésbico.]

Diante desse horror, do pânico de ter uma pessoa do sexo masculino, que prega o estupro corretivo de lésbicas, sendo alçada a porta-voz de mulheres e lésbicas nas redes sociais, eu lanço a pergunta:
Quem vocês acham que tem poder de determinar o que uma megaempresa deve permitir ou censurar em suas plataformas? Quem vocês acham que tem o poder de sentar na cabeceira de uma mesa de reunião de uma megaempresa de mídia para ditar as regras sobre o que pode ou não pode ser veiculado acerca de mulheres e mulheres lésbicas nas redes sociais? Eu vos digo: QUEM TEM PÊNIS. QUEM DETÉM O PODER DO FALO. E AQUELAS MULHERES QUE COADUNAM COM ESSE ABSURDO.

Omexplicanismo em uma imagem:
Macho que "se sente mulher lésbica" na cabeceira da mesa em reunião com o Facebook pra ditar as regras pra militância virtual lésbica e feminista.
Como sempre, as mulheres ouvem atentamente pra aprender com o macho sobre a própria condição.

As mulheres estão cegas cegas. Tão cegas e colonizadas pelo falocentrismo e pelo backlash transativista que não conseguem enxergar o óbvio: SOMENTE A UM HOMEM E AS SUAS IDEIAS SERIA CONCEDIDO ESSE ESPAÇO E ESSE PODER PARA FALAR DE MILITÂNCIA SOBRE LÉSBICAS E MULHERES.


Tentar convencer lésbicas que pessoas do sexo masculino podem ser lésbicas e que pode haver pênis numa relação lésbica tem um nome: ESTUPRO CORRETIVO. Qualquer pessoa que usa de qualquer argumento para inserir pênis em relações lésbicas é um ESTUPRADOR.