Na política de identidades, que tem como fundamento a AUTOIDENFICAÇÃO, não é permitido a outra pessoa legislar sobre a identidade de alguém, porque o direito a autoidentidade passa a ser compreendido como um direito fundamental do indivíduo. Fundada na ética liberal, que tem o indivíduo como o princípio e o fim de todo e qualquer ordenamento social, ignorando que a construção da realidade e das condições sociais não se dá apartir da vontade individual, mas da interação dialética entre individuos e coletividade, a ética estabelecida a partir do liberalismo ignora a realidade histórica e material de fenômenos como "identidade" e deposita na vontade individual soberana todo o pode sobre a identificação de categorias que não existem individualmente, mas coletivamente - como "homem" e "mulher", fundamento essas categorias como vontade individual de pertencimento e, dentro da lógica liberal, direito fundamental que não pode ser negado ao indivíduo. Desta forma, não importa se você crê que "mulheres" trans são apenas aquelas que se hormonizaram desde muito jovens, ou aquelas que reproduzem os estereótipos de gênero mais rigorosamente, ou aquelas que retiraram o pênis cirurgicamente, pois não é você (nem nenhuma outra pessoa) que legisla sobre a identidade de uma pessoa, mas somente ela mesma. E aos outros só cabe acatar a identidade dessa pessoa e todos os direitos que ela passará a desfrutar a partir dessa mudança de condição - como frequentar banheiros femininos, mesmo sendo uma pessoa do sexo masculino, mesmo tendo barba, mesmo tendo um pau - dentro da ética da política de identidades e de autoidentificação, só cabe ao indivíduo dizer quem ele é, independente se (e em que grau) você concorda ou discorda disso.
É a partir dessa ética, dessa lógica e desse fundamento, da POLÍTICA DE IDENTIDADES (uma política fundamentada na ética liberal e pós-moderna), que o movimento queer e o movimento trans fundam as suas práticas de autoidentidade e autoidentificação. É a partir do apagamento da nossa condição HISTÓRICA e MATERIAL, socialmente construída (eu não sou mulher porque me identifico com uma, eu sou porque "mulher" é uma condição histórica e material que os homens impõem às pessoas do sexo feminino e não uma vontade individual), é a partir do silêncio das mulheres (que estão sendo impedidas de dizer o que é ser uma mulher porque isso exclui e fere os sentimentos daqueles que "se identificam" com uma), é a partir do apagamento da nossa história (que é negada cada vez que eles afirmam que ser mulher é uma questão de identificação com estereótipos e signos de violência ou que ser mulher é um "sentimento"), é a partir da invasão de nossos espaços íntimos, sociais e políticos (conquistados a duras penas, em cima do sangue e morte das que lutaram antes de nós). Vocês conseguem perceber que a política de identidades é estabelecida pra isso mesmo? Pra permitir ao grupo dominante que "se identifique" com o grupo dominado, invada seus espaços, regule suas práticas, imponha suas pautas, defina o que é ser alguém do grupo dominado a partir de seus próprios princípios de dominação e, quando for questionado, grite: "Vocês não podem fazer isso comigo porque eu sou um de vocês!"
Vocês conseguem perceber o perigo disso? Vocês conseguem perceber que homens estão invadindo nossos espaços, íntimos, sociais, políticos... que eles estão nos representando, definindo nossas pautas, narrando nossa história, definindo nossa condição - a condição de "ser mulher"?
Vocês estão cegas?
PELAMORDADEUSA, SAIAM DESSE TRANSE PIROQUISTA.