quinta-feira, 22 de junho de 2017

FEMINISMO, MULHERES, SEXO, GÊNERO E A PERVERSA SEMÂNTICA LIBERAL-PATRIARCAL

Dizer que uma pessoa do sexo masculino é uma pessoa do sexo masculino não é ofensivo - a menos que toda Ciência, a começar pela biológica, seja reescrita, que todos os seus conceitos e todas as premissas de inteligibilidade do mundo e dos fenômenos naturais e sociais sejam reformulados, e que criemos novas compreensões sobre como os fenômenos, o mundo e a realidade existem e se comportam, lá desde o início da fundação da ciência, do conhecimento e da linguagem - porque, fora isso, o sexo masculino ainda continua sendo o sexo masculino e o sexo feminino continua sendo o sexo feminino, pelo que me conste, e não há, ainda, outra forma de dizê-los e, portanto, não há ofensa ou crime nenhum em observar e dizer sobre os sexos o que eles são. Então, a menos que me ofereçam novos parâmetros de inteligibilidade e linguagem para o mundo e a realidade, eu vou continuar dizendo que afirmar que o sexo masculino é o sexo masculino e o sexo feminino é o sexo feminino não pode configurar crime, ofensa ou agressão pra ninguém. E, muito menos, que dizer que uma pessoa do sexo masculino é uma pessoa do sexo masculino pode ser uma loucura, uma irracionalidade, uma violência ou uma tentativa de desumanização de alguém (até porque, o sexo desumanizado não é o sexo masculino, né?). Só se a gente estivesse em um surto coletivo poderíamos ignorar todo um sistema milenar de linguagem e compreensão do mundo, sem sequer ter criado outro, pra poder dizer que pênis, próstatas e escrotos podem ser, ao mesmo tempo, o sexo masculino e o sexo feminino e que vulvas, vaginas, úteros e ovários podem ser, do mesmo jeito, o sexo masculino e o sexo feminino concomitantemente (e unicamente obedecendo a vontade individual das pessoas que decidem por isso, sem nenhuma referência num sistema cultural ou num sistema de linguagem e de inteligibilidade pré-existente). Mas  nós não estamos nesse surto coletivo, estamos?

Desta forma, dizer que o sexo masculino (significado e realizado na sociedade patriarcal como o sexo masculino a partir de um sistema de sentidos e significados e de uma organização material que hierarquiza as diferenças sexuais e coloca o sexo masculino no lugar de superioridade) é o sexo privilegiado nesse sistema por estar na posição superior da hierarquia sexual em relação ao sexo feminino, dizer isso também não deve ser nenhum crime, nenhuma loucura, nenhuma violência contra o sexo masculino, não? Apontar e nomear o sexo masculino como sexo masculino dentro de um sistema que significa e realiza o sexo masculino como o sexo privilegiado é um problema? Apontar e nomear o sexo masculino como privilegiado num sistema que privilegia o sexo masculino, é um problema? Pra quem? Apontar e nomear a violência patriarcal do sexo masculino contra o sexo feminino, num sistema que significa e realiza o sexo masculino a partir de uma posição superior na hierarquia sexual, privilegiando, autorizando e criando meios, assim, para a perpetuação da violência, dominação e exploração do sexo masculino contra o sexo feminino deve ser evitado por quê exatamente? Afirmar que é ofensivo, criminoso, irracional e desumano que o sexo feminino aponte e nomeie que o sexo masculino é o sujeito da violência e dominação históricas do sexo masculino contra o sexo feminino interessa a quem, afinal? Dizer que apontar o sexo masculino como sexo masculino é desumanizante para sexo masculino serve a quê e a quem? Que sistema patriarcal é esse em que apontar e nomear o sexo masculino como o sexo masculino configura um processo de desumanização do sexo masculino e um sistema de opressão promovido pelo sexo feminino contra o sexo masculino? Que sistema patriarcal é esse em que apontar o sexo masculino como sexo masculino, como sexo privilegiado na hierarquia sexual configuram um instrumento de poder do sexo feminino contra o sexo masculino dentro do sistema de opressão que, em tese, oprime o sexo feminino?

A gente tá vivendo um surto coletivo?

Ou o patriarcado acabou e a gente nem percebeu?

Ou as mulheres não compreendem muito bem ainda o que o patriarcado é porque a nós é negado o acesso aos significados reais e ao conhecimento de nossa história, da história do nosso sexo, da origem de nossas opressões, da história, fundamentos e funcionamento do patriarcado, do sistema que oprime e explora o sexo feminino? E porque ao sexo masculino, o sexo superior na hierarquia do patriarcado, interessa que continue assim?

Ou será, ainda, que um movimento masculinista, patriarcal e antifeminista poderia querer aniquilar tudo que já conquistamos, tudo que já chegamos a conhecer e nomear sobre o patriarcado e sobre nossa condição, e poderia querer tentar nos convencer, e a toda sociedade, que, dentro de um sistema patriarcal - fundado numa hierarquia sexual, em que o sexo feminino historicamente dominado e explorado pelo sexo masculino - as  mulheres nomearem e apontarem o sexo masculino e a violência do sexo masculino como o que elas são poderia configurar um processo de desumanização do sexo masculino e um processo de opressão do sexo feminino contra o sexo masculino? Porque me ocorre muito precisamente que estão tentando nos convencer disso, confere?

Não pode parecer um absurdo tão grande assim (se nós somos capazes de admitir que o patriarcado é mantido por uma hierarquia sexual, pela dominação e exploração históricas do sexo feminino pelo sexo masculino) que nomear os sexos e o lugar deles na hierarquia sexual é importante pra compreender e combater o patriarcado e a nossa exploração, não? Se a gente pude admitir que, historicamente, desde sempre, é o sexo feminino o sexo vilipendiado, estuprado, violado, explorado, em sua sexualidade, em seu trabalho, em suas potências reprodutivas, oferecendo seu tempo, sua vida, seus sentimentos, seus serviços domésticos, sexuais, sua submissão, conforto emocional e material e prole aos homens para construir e manter a sociedade e a economia patriarcal - e que isso importa, e muito!, na nossa história - podemos concordar, também que o sexo importa? Que nomear os sexos, que localizá-los historicamente, que localizá-los dentro da hierarquia sexual, que compreender o comportamento da violência perpetuada de um sexo sobre o outro, desde o passado até os dias de hoje, importa sim pra gente compreender a origem e a manutenção da nossa opressão, porque o patriarcado se mantém a partir dessa hierarquia sexual que nos explora e oprime? Podemos concordar com isso? Que o sexo importa? Sim, importa.

Mas tem um grande problema aí, porque admitir que o nomear os sexos, a hierarquia e a violência sexual importam pra compreender a origem da opressão do sexo feminino é o início do caminho pra gente entender profundamente as raízes da nossa opressão - e a forma mais eficaz de criar estratégias pra combatê-las em seu cerne, justamente aonde elas se enraízam, em seus sentidos mais profundos. Se a gente consegue, então, concordar que o patriarcado é fundado em uma hierarquia sexual (vale lembrar que "patriarcado" = patri+arcado, donde "patri" se refere a pai, a homem, ao sexo masculino, e "arcado", a poder, a posição superior, a hierarquia) em que o sexo masculino ocupa uma posição superior e o sexo feminino ocupa uma posição inferior - e, dentro de um sistema de dominação e exploração isso significa, fundamentalmente, que um sexo cria e mantém estratégias de dominação e exploração e outro sexo é criado e mantido submisso a essas estratégias de dominação e exploração e que isso importa e não pode ser silenciado ou negado. E, então, fica tão óbvio o absurdo de toda essa falácia discursiva de que o sexo feminino poderia ter algum poder de dominação, desumanização, opressão e exploração sobre o sexo masculino apenas por nomeá-lo e apontá-lo como o sexo masculino, como o sexo privilegiado no patriarcado e como o sexo sujeito da violência e exploração contra o sexo feminino, fica tão evidente essa falácia masculinistas e patriarcal, que o discurso pós-moderno, as teorias queer e a as teorias transgeneristas (ambas patriarcais, pós-modernas e neoliberais) precisaram, desesperadamente, inventar uma estratégia discursiva e política pra resolver isso: apagar a palavra sexo de todo e qualquer debate e/ou qualquer política sobre o patriarcado, apagando, assim, progressivamente, também, toda realidade que essa palavra evoca e qualquer debate sobre ela. Assim, é fundamental para a sobrevivência dos projetos transgêneros e queer apagar a hierarquia sexual que submete as mulheres, apagar o debate sobre a hierarquia sexual que submete as mulheres, apagar a consciência sobre realidade material da hierarquia que submete as mulheres, apagar os significados mais profundos do que significa viver como sexo feminino e ser uma mulher no patriarcado, nos impedindo de dizer o que é ser essa mulher, substituindo toda a questão sexual por "gênero", em todo e qualquer debate, em qualquer espaço, em qualquer política, justamente pra apagar o fundamento da opressão das mulheres, os sujeitos dessa opressão, e permitir que o sexo masculino diga, então, pelo "debate de gênero", que ele sabe tão bem o que é ser uma mulher que pode até mesmo ser uma e definir o que é ou não uma mulher a partir de sua experi~encia de sexo masculino. E que ele, portanto - o sexo masculino que agora é uma mulher - tem o direito de ignorar tudo que as mulheres estão dizendo sobre a relação fundamental entre ser mulher e a exploração do sexo feminino pelo masculino para continuar definindo, a partir de seus próprios sentimentos e pensamentos misóginos e falocentrados de sexo masculino, o que é ser uma mulher., E, então, os "estudos de gênero" colocam, dessa forma, o sexo masculino no centro de um debate - o feminismo - que deveria ser sobre nós e sobre a nossa opressão sexual,  mas que agora é sobre "gênero" e "problemas de gênero" e que inclui a violência e a opressão que o "gênero feminino" também pode impor sobre o "gênero masculino" quando o sexo masculino "se sente" como uma mulher e define a nossa condição a partir de seus sentimentos misóginos e falocentrados. E, agora, portanto, o patriarcado é sobre isso, não é mais sobre hierarquia sexual, sobre exploração sexual, é sobre "gênero". E a opressão das mulheres - a violência, opressão e exploração históricas do sexo masculino contra o sexo feminino - virou uma época superada que figura somente nos antigos livros de História ou um delírio histérico de feministas materialistas e feministas radicais.

Enquanto o sexo feminino continua sendo o sexo dominado e explorado pelo sexo masculino na realidade material de uma economia patriarcal, os homens de batom e glitter estão promovendo debates e políticas ditas "feministas" sobre como podem ser oprimidos pelas mulheres - antes o sexo oprimido e explorada no sistema de exploração patriarcal, as mulheres são, agora, reclassificadas como privilegiadas dentro desse mesmo sistema sob a alcunha de "cis". E o sexo masculino está, então, novamente (porque o feminismo tinha tirado o sexo masculino do centro de todos os debates e criado um debate centrado no sexo feminino que era, vejam só!, o debate feminista) no no centro de todos os debates sobre "gênero", no Brasil e no mundo todo, até mesmo dentro do próprio feminismo.


[O gaslaite do século, ein! Mas o sexo masculino é mesmo bom nisso, vocês negam?]

Bem, então, como podemos perceber, segundo as teorias e movimentos queer e trans (cujos pressupostos de existência de pessoas trans e não-binárias se fundamentam na Política de Identidades pós-moderna, na qual as pessoas são aquilo que escolhem ser, ou seja, aquilo com o que se autoidentificam individualmente), segundo essas teorias e movimentos, a hierarquia sexual (o cerne histórico da dominação e exploração das mulheres pelos homens), realmente não existem mais - e elas precisam negar a existência da hierarquia sexual e da exploração do sexo feminino como fundamento da opressão das mulheres porque admitir isso impossibilita a existência do gênero como mera identidade, e impossibilitaria a prática da autoidentificação de gênero e a ideia de que homens poderiam ser mulheres apenas por dizer que se sentem como tal, sem nunca terem vivenciado a experiência material de nascer sexo feminino numa sociedade que forja mulheres como o sexo inferior, o sexo violável e explorável. É preciso negar toda a questão sexual, pois admitir a hierarquia sexual como fundamento do patriarcado recolocaria a questão da opressão no sexo, na hierarquia sexual, e apontaria que, no patriarcado, o sexo masculino é o sexo superior na hierarquia, o sexo agente da opressão, o sexo privilegiado - e isso não deve ser denunciado, ao contrário, isso precisa ser negado e apagado para que o sexo masculino continue no poder e continue dominando e explorando o sexo feminino. Então, pra levar esse projeto à cabo, a partir do nada, apenas no nível do discurso, sem nenhuma conexão com nenhuma realidade histórica, eles ressignificam o patriarcado, criando um novo sistema de dominação patriarcal, sem fundamento histórico algum, sem sociogênese nenhuma, sem organização econômica, sem produção, sem data, sem início, sem meio e sem fim - ou seja, sem materialidade alguma, como tudo que o discurso liberal inventa sobre a realidade - o CISTEMA, que, na verdade, seria um sistema patriarcal organizado não na opressão pelo sexo, mas na opressão pelo gênero, só que na real é um sistema que não existe, que não tem materialidade alguma no real. E esse é, então, um sistema patriarcal em que nem sempre o sexo masculino é o sexo privilegiado, um sistema patriarcal em que nem sempre o sexo feminino é o sexo oprimido e explorado na economia patriarcal, um sistema patriarcal em que o sexo feminino pode dominar e oprimir o sexo masculino, dependendo dos gêneros com que esses sexos tenham escolhido se identificar. Assim, anulada a questão sexual, e pretensamente [re]fundada (sem materialidade alguma, mas apenas na ordem do discurso, repito) a organização e a economia patriarcal não mais na hierarquia sexual, mas na questão do "gênero", o sexo masculino, agora também oprimido e explorado pelo gênero no patriarcado, passa a ser, obrigatoriamente, ele, pauta central do movimento que combate o patriarcado, o movimento feminista. Enquanto as mulheres que insistem em dizer que um movimento feminista que se ocupa do sexo masculino, o sexo que mantém a posição superior num sistema organizado pela hierarquia sexual e que autoriza a exploração do sexo feminino, é um movimento corrompido pelo sexo masculino, um movimento colonizado, um movimento falocentrado, precisam ser banidas e excluídas com urgência desse movimento feminista.

Pronto. A hierarquia sexual acabou, foi superada, ficou pra trás, findou-se. O sexo masculino está no centro do movimento de mulheres (na militância, nos espaços acadêmicos, nos livros, no pensamento das mulheres), e cada vez mais presente e potente, afirmando, legislando, dominando espaços, criando discursos e teorias, criando linguagem, pensamento, consciência, definindo a condição da mulher, do sexo feminino - de dentro do movimento em que mulheres acreditam firmemente ser o espaço de autonomia de ação e pensamento das mulheres, em que elas têm a certeza de estarem pensando autonomamente, sem a interferência dos homens, logo, o espaço onde tudo que é produzido precisa ser reconhecido e legitimado como uma produção livre de homens, uma produção de mulheres, olha o perigo! É neste espaço, o espaço da autonomia das mulheres, que o sexo masculino está ditando as pautas feministas como se fossem pautas das mulheres: que o sexo não importa, que a hierarquia sexual é um delírio radical, que os processos de dominação e opressão no patriarcado, agora, se dão pelo "gênero", que a questão sexual, e tudo que diz respeito a ela, é "biologizante", e que a biologia é condenável (mas somente a feminina, porque muito embora assuntos relativos às nossas vaginas e úteros sejam apontados como desimportantes, ultrapassados ou ofensivos, os assuntos referentes aos pênis deles tem lugar central no feminismo, já que do discurso sobre seus pênis - reconhecê-los, aceitá-los, mantê-los ou retirá-los em cirurgias - depende o próprio reconhecimento deles como "mulheres" e a maior parte de suas pautas), assim como tudo que diz respeito a ela, e deve ser silenciado, e não deve, sequer, ser mencionado, porque ofende as "trans". Assim, segundo a lógica masculina e falocentrada dos movimentos queer e transativista, e deles dentro do próprio feminismo, todos os fenômenos e processos mantidos pela hierarquia sexual que organiza o patriarcado e toda sua economia (o sexo masculino historicamente na posição superior e o sexo feminismo historicamente na posição inferior dentro de um sistema milenar de dominação e exploração), acabaram, ou foram superados como estruturas sociais patriarcais: não existe mais a exploração/violência sexual do sexo masculino contra o feminino como estruturas patriarcais e como atividades de exploração e manutenção da economia patriarcal, mas senão como violências circunstanciais de um "gênero" sobre outro; não existe mais a opressão do sexo masculino contra o sexo feminino, não existe mais hierarquia sexual. É por isso, portanto, que dentro do discurso liberal pós-moderno do queer e da transgeneridade, a prostituição e a pornografia, assim como qualquer outra instituição ou forma de economia patriarcais, podem ser compreendidas não mais como estruturantes da dominação do sexo masculino sobre o feminino, mas como liberdade e empoderamento, como escolha e opção individual, em vez de uma engrenagem de exploração do sexo feminino numa sociedade organizada pela hierarquia sexual com uma economia baseada na exploração do sexo inferior, o sexo das mulheres. 

E é assim, apagando a hierarquia sexual e a exploração fundamental do sexo feminino pelo sexo masculino como estruturantes da sociedade patriarcal (a nossa sociedade), e colocando o "gênero", esvaziado de todo sentido e de qualquer relação com a hierarquia sexual, como o cerne e fundamento da exploração e da economia patriarcal, eles apagam, também, todo nosso conhecimento e nossa consciência sobre a origem da exploração das mulheres, da exploração do nosso sexo, o sexo feminino. O que permite a eles, mais uma vez (porque, historicamente, é tudo que eles tem feito a cada vez que nós desvelamos suas linguagem e práticas patriarcais de dominação do sexo feminino) nos definir, definir o que é ser mulher, definir a nossa condição, pela perspectiva masculina, do que eles acham que deve ser uma mulher - o poder de dizer o que somos e o que não somos continua nas mãos deles porque, agora, a partir destes apagamentos e destas ressignificações, qualquer violência que o sexo masculino cometer contra o sexo feminino continuará sendo perdoada, relativizada e até mesmo celebrada - quando convertida em "reação do oprimido" - se a pessoa do sexo masculino disser que é uma mulher, porque a hierarquia sexual não existe mais e o fundamento da opressão passa a se dar pelo "gênero" - e gênero cada um escolhe o seu*.

Chagará o tempo (já chegamos?) que bastará que um homem se diga uma mulher pra que seja autorizada a ele todo tipo de violência contra mulheres: coações, insultos, ofensas, perseguições, ameaças, agressões, estupros; bastará que ele diga que quando essa mulher nomeia o sexo dele como o sexo masculino e nomeia a todas essas violências como violências do sexo masculino contra o sexo feminino que isso o ofende, e que essa mulher está o violentando e negando sua humanidade, e que é por isso que ele a ameaça e agride; bastará isso para que todos apoiem a violência do sexo masculino contra o sexo feminino e para que se voltem contra as mulheres, já tantas vezes agredidas e violadas pela violência masculina e nos acusem de não sabermos reconhecer a violência masculina, pois que não se trata, mais, essa violência que nos atinge, da violência perpetrada contra nós por homens, nem se trata, ali, de um homem e nem do sexo masculino; bastará isso para que acusem a gente, enfim, de ter poder dentro do patriarcado pra oprimir os homens, pois que a opressão, não mais fundada na hierarquia sexual, agora se dá por gênero, e esse homem é oprimido por mulheres, portanto, por causa de seu "gênero feminino". (Tomar no cu, né? Me desculpem.)

O sexo feminino oprimindo o sexo masculino num sistema que se fundamenta e se mantém pela opressão e exploração do sexo feminino pelo sexo masculino. O patriarcado acabou e a gente nem viu? Ou estamos sendo feitas de trouxas?

Acordem do transe.



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*Embora as pessoas que continuem sendo mais reconhecidas e respeitadas na sua escolha pelos estereótipos de gênero que decidem adotar continuem sendo as pessoas do sexo masculino e às pessoas do sexo feminino faça muita pouca diferença os estereótipos de gênero com que escolhem se identificar, pois continuarão recebendo o tratamento patriarcal destinado ao sexo feminino: o sexo, o corpo e a biologia moralmente e socialmente autorizados à demonização, ao interdito, à exploração, à violação e ao estupro; o sexo ao qual a reprodução é imposta, é obrigatória, é compulsória, é um processo significado a partir do sentido de obrigação e dever moral e laboral das mulheres para com os homens,  imposta através do estupro como um castigo por ser a mulher o sexo que é; o sexo para quem, por fim, o aborto será negado a fim de que o sexo feminino carregue pra sempre a maternidade como castigo e maldição por ser ela o sexo que é, e, ao mesmo tempo, como [pseudo] redenção por ter cumprido o dever moral de sua sujeição ao sexo masculino, aquele que lhe invade e, gozando o prazer de sua servidão moral e sexual, a fecunda, servindo-se de seu sexo ao mesmo tempo como objeto de prazer, depositório de esperma e incubadeira de seus herdeiros. Não importa com que estereótipos de gênero uma pessoa do sexo feminino decida se identificar ou não, quando ela for identificada como uma pessoa do sexo feminino ela será tratada como uma mulher do patriarcado, independente de como ela deseja se identificar, porque a condição material da mulher no patriarcado é imposta sempre pela violência ao sexo feminino, isso não é uma questão de identificação - nenhuma mulher, nunca, jamais, escolheu ou decidiu se identificar com isso, com  violência que lhe é imposta cada vez que é reconhecida como uma mulher, cada vez que é reconhecida como o sexo violável e explorável na hierarquia sexual.



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