domingo, 4 de junho de 2017

A PROSTITUIÇÃO E A ECONOMIA PATRIARCAL

Essa semana, a Mídia Ninja, o veículo da esquerda misógina, já bastante conhecida por acolher agressores, abusadores e apologistas do estupro, da pedofilia e da prostituição, lançou um vídeo com uma mina e dois famosos travestis - um conhecido cafetão do Rio e outro que afirma se prostituir por hobby/militância - em defesa da prostituição. No vídeo, além de romantizarem e glamurizarem uma atividade que, milenarmente, destrói, viola, encerra a vida de centena de milhares de meninas e mulheres no mundo todo, ainda fazem apologia à pedofilia, banalizando o incesto pedofílico e confirmando a tese de que na nossa sociedade, a cultura do estupro anda de mãos dadas com a cultura da pedofilia, de que a prostituição e a pedofilia se retroalimentam, necessitam uma da outra, pois que essa relação mantém a base de exploração das mulheres no patriarcado. Vejam o vídeo (apologia à pedofilia aproximadamente no minuto '5):

"ele vai te contar no telefone: eu tô aqui com a calcinha da minha filha e eu gostaria que vc vestisse pra gente transar eu fingindo que vc é a minha filha, pode ser?" - Entre risos e piadas, a pedofilia incestuosa é NATURALIZADA à serviço da prostituição por pessoas do SEXO MASCULINO que se dizem mulheres e porta-voz do feminismo.


  


Então, vamos colocar a questão de maneira um pouquinho mais profunda do que o debate patriarcal e liberal, pautado em experiências individuais e nas afirmações daqueles e daquelas que, em situação de privilégio econômico, social e/ou sexual, afirmam experimentar a prostituição como "escolha" e "empoderamento" (a sua grande maioria pessoas do sexo masculino e um pequeno contingente  mulheres que apropriaram das vozes daquela imensa maioria cuja a prostituição é a única forma de subsistência) e que berram que prostituição é libertadora e empoderadora a partir de suas próprias experiências, ignorando a imensa maioria das mulheres que denunciam o que o prostituição realmente é e qual o fundamento de suas relações com o patriarcado. Então, pra vocês que acreditam que prostituição é escolha, liberdade, empoderamento:

A prostituição (como instituição política e como atividade de rotina das mulheres prostituídas) tem, no patriarcado, a mesma função que o exército de reserva de mão-de-obra no capitalismo: regular a economia* do sistema no qual estão inseridas - no caso do exército de reserva de mão-de-obra a regulação da economia capitalista, no caso da prostituição a regulação da economia patriarcal. A prostituição é o exército de reserva do patriarcado e existe pra regular a economia patriarcal. 

Para que homens mantenham o controle sobre os corpos, o sexo, as capacidades reprodutivas e as subjetividades das mulheres, assim como sobre a dominação, a exploração, o poder e o lucro que podem obter através da exploração das mulheres, é necessário que a mulher, enquanto coletividade, possa ser expropriada de tal forma pelo sistema patriarcal a ponto de que a mercantilização de seus corpos pelos homens seja sempre um horizonte, uma possibilidade de subsistência para qualquer mulher em condição de miséria. Para manter o patriarcado e a dominação do sexo masculino sobre o feminino, é fundamental que a prostituição, a mercantilização de nossos corpos, seja, sempre, uma possibilidade pras mulheres que historicamente vêm sendo expropriadas pelos homens; ou seja: a prostituição, enquanto instituição política patriarcal, se constitui, então, como uma condição fundamental de poder e controle para a existência e para sobrevivência das mulheres num sistema de dominação que as ameaças e explora. É preciso que haja, sempre, um contingente de mulheres miserabilizadas e expropriadas de seus corpos e seu trabalho, de sua capacidade de subsistência, a quem só restará o próprio sexo como moeda de troca pra sobreviver, para regular toda a economia patriarcal de controle, dominação e exploração de mulheres em outras instâncias políticas e sociais. É preciso que exista sempre essa instituição (a prostituição, a venda do próprio corpo, do próprio o sexo como última possibilidade de subsistir) para que a condição feminina no patriarcado seja sempre uma condição controlada pelo poder masculino e, às mulheres, reste somente a submissão como meio de sobreviver: a submissão ao casamento, a violência doméstica, aos baixos salários, ao assédio sexual no trabalho, à servidão doméstica e sexual como alternativa à miséria última de converterem sua humanidade em mercadoria para a prostituição... Assim os homens seguem impondo e regulando a economia patriarcal e mantendo o seu sistema de dominação sobre o sexo feminino.

A prostituição é, portanto, uma atividade fundamental da economia patriarcal, pois regula as relações de mercado, de objetificação e mercantilização das mulheres, a organização social e de subsistência no patriarcado. Essa é a função da prostituição no patriarcado, pra isso foi criada e por existe e persiste a diferentes épocas e diferentes manifestações dos códigos culturais de diferentes sociedades patriarcais. E não existe prostituição libertadora e nem empoderadora porque uma instituição não pode ser nunca, ao mesmo tempo, mantenedora e revolucionária do sistema de opressão no qual está engendrada.

A servidão das mulheres mantém a prostituição e é mantida por ela, assim como a prostituição mantém o patriarcado e é mantida por ele, numa relação circular que mantém seu caráter mais fundamental, mesmo que os discursos liberais masculinistas insistam em esconder esses fundamentos e apontar a prostituição  como possibilidade de empoderamento e de libertação de mulheres. Por isso os homens - os da esquerda e da direita, os que se sentem homens e os que juram que se sentem mulheres - a defendem veementemente, e colocam, sem pudores, a seu serviço os corpos das mulheres e das crianças, fazem isso porque o patriarcado socializa o sexo masculino pra misoginia, pro falocentrismo, pra defender os interesses da classe masculina sobre a classe feminina, os interesses coletivos que mantém a supremacia do sexo masculino sobre o sexo feminino, pra banalizar e romantizar a miséria das mulheres e nos convencer que a nossa miséria, nossa objetificação e exploração é, na verdade, nosso poder sobre homens, é nossa libertação. Não acreditem em homens, não acreditem nas ideias que dizem defender em nosso favor, não acreditem na defesa coletiva de homens sobre nossos interesses, porque todas as pessoas do sexo masculino recebem a socialização falocentrada e misógina, pra objetificar e explorar o sexo feminino em benefício próprio, independente de como elas queiram se identificar, do pronome que queiram ser tratadas ou da roupa que escolham vestir. Observem o discurso masculinista, observem a violência masculina, eles seguem um padrão que nós, mulheres, conseguimos identificar porque estamos desde a infância submetidas a essa violência. Fiquem atentas.

Amara Moira é um travesti ativista pró-prostituição, que defende que a atividade é libertadora para o sexo feminino, historicamente, o sexo mutilado, explorado, estuprado, violado, pelo sistema patriarcal e pela atividade econômica patriarcal da prostituição. Amara Moira é quem, no vídeo apresentado nesse texto, faz apologia e naturaliza a pedofilia através da prostituição. Amara Moira é uma pessoa do sexo masculino, que, apesar de dizer que se sente como uma mulher, nunca experimentou de fato, como imposição, a realidade material destinada pelo patriarcado às pessoas nascidas no sexo feminino.

“A transgressão é um deleite dos poderosos, que podem se imaginar deliciosamente desobedientes. Ela depende da manutenção da moral convencional. Não haveria nada para ofender e a deliciosa desobediência desapareceria se uma mudança social séria acontecesse. Os transgressores e os moralistas dependem mutuamente uns dos outros, em uma relação binária que derrota ao invés de permitir mudança. Além disso, a transgressão depende da existência de subordinados sobre os quais a transgressão sexual pode ser dramatizada. Não é uma estratégia viável para a dona de casa, a mulher prostituída ou para a criança violentada. Estes são objetos da transgressão, não seus sujeitos”. (Sheila Jeffreys em: "Unpacking Queer Politics")

*Estou usando "economia" não somente em seu sentido de Ciência e disciplina acadêmica, mas no sentido mais amplo, apontando como "economia" a maneira como cada sociedade se organiza para produzir, distribuir, acumular e consumir bens e riquezas materiais e imateriais, como utilizam os recursos humanos, materiais e simbólicos para produção de valor, de bens e de riquezas e de como é feita a distribuição destes entre seus indivíduos.

Um comentário:

  1. O triste é que essa Amara Moira é professora no cursinho online Descomplica. Aposto que muitos alunos vão pesquisar sobre ela e acabam descobrindo que ela é pró prostituição, o que pode influenciar alguns jovens menos críticos, muito triste isso. E parabéns pelo blog.

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