quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

SOBRE VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA CRIANÇAS.





Sempre ouvi dos homens, em tom de elogio, que eu era muito "madura" pra minha idade e, aos 12 anos, eu tive um "namorado" de 24, meu primeiro "namorado".

Aos 12 anos eu dividia meu tempo com preocupações sobre como não ficar em recuperação na escola, brincar, colecionar papéis de carta com bichinhos, conversas com as amigas sobre os flertes com meninos da minha idade e um "namorado" de 24 anos.

Mas a história da minha "maturidade" e dos relacionamentos com homens mais velhos não começa aí.

Antes disso, aos 11 anos, eu identifiquei que sofria abusos sexuais do meu tio, homem que me viu nascer e participou da minha criação. Provavelmente esses abusos começaram antes, mas eu não consigo me lembrar, somente aos 11 anos eu tive a compreensão e pude verbalizar. Não é fácil para uma criança de 11 anos denunciar um abuso sexual, denunciar que seu tio, que a viu nascer e ajudou na sua criação, que era querido por toda a família, abusava sexualmente de uma criança. As consequências são diversas e vocês podem prever. O abuso sexual na infância marca a vida da gente de forma indelével, estruturante. O abuso sexual na infância conforma nossos afetos, nossos sentimentos, nossa sexualidade e nossa personalidade. O abuso sexual na infância é a INAUGURAÇÃO NA PRÁTICA de uma PREPARAÇÃO IDEOLÓGICA que nós, mulheres, vamos recebendo desde a primeira infância, o abuso sexual na infância é a primeira realização prática para "selar" a conformação da nossa personalidade e de nossos afetos e sentimentos como mulheres pra nossa função principal no patriarcado: servir aos homens.

Aos 11 anos se realizou sobre mim a preparação posta a cabo por toda minha infância, aos 11 anos um homem me mostrou na prática aquilo sobre o qual eu já vinha sendo ensinada em discursos desde que nasci: que a minha principal função como pessoa do sexo feminino é existir para servir às pessoas do sexo masculino.

Durante muitos anos seguintes eu não consegui me libertar desse "ensinamento". Durante muitos anos, eu fui empenhada em cumprir o desígnio que me foi "ensinado" na teoria e na prática. Durante muitos anos eu me empenhei em ser uma adolescente "madura", em ser "sexy", em ser "boa de cama", em fazer os homens me desejarem e fazer tudo possível para que o desejo deles por mim se realizasse. Durante muitos anos eu acreditei que minha função, de fato, era servir e agradar aos homens, e me empenhei pra isso. Até conhecer o feminismo. Aí eu aprendi que eu sou uma ser humana, que todas as mulheres são SERES HUMANAS e não objetos cuja a existência se dá apenas em função dos homens. Dá pra entender por que o feminismo é tão odiado por eles, então?

Estamos rompendo o silêncio, estamos falando. Não vão mais nos calar. Isso incomoda aos homens porque isso é a pedofilia e o abuso sexual narrados pela perspectiva da vítima, o feminismo incomoda aos homens porque permite às mulheres narrarem a violência e os abusos que sofrem pela perspectiva das vítimas, e nós estamos fazendo! Nós rompemos o silêncio e estamos fazendo.

Não deem voz a pedófilos estupradores, deem voz às vítimas! Escutem o que as vítimas estão dizendo!  Abusadores de crianças e de adolescentes não são doentes, pedofilia não é doença, é CULTURA. Abusadores não são doentes que precisam de tratamento, abusadores são patriarcas saudáveis exercendo seu poder patriarcal sobre vítimas vulneráveis. Não tratem pedófilos como vítimas! Pedófilos NÃO SÃO VÍTIMAS, são AGENTES da CULTURA DO ESTUPRO E DA CULTURA DA PEDOFILIA.

VÍTIMAS SOMOS NÓS!


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