domingo, 11 de março de 2018

A JUSTIÇA FALOCRÁTICA

A justiça patriarcal é feita pra humilhar e punir qualquer mulher que ouse levantar a voz contra as agressões masculinas. Pra violar reiteradamente qualquer mulher que ouse sair do lugar de sujeição e silêncio que o patriarcado nos reserva.

A justiça patriarcal é, ao mesmo tempo, uma realidade e uma metáfora; uma realidade perversa que humilha e agride a mulher e uma metáfora de estupro. Um estupro simbólico pra mostrar a algumas mulheres que elas foram longe demais, que elas precisam recuar, pra colocá-las novamente de joelhos frente a seus agressores cada vez que elas ousam se erguer, pra colocá-las novamente de joelhos e obrigá-las a se retratarem, a se desculparem, por narrarem as violências que sofrem, por romperem com o silêncio que historicamente nos tem sido imposto. É um estupro simbólico, que viola a mulher em sua dignidade, em sua moral, em seus valores mais íntimos, em sua existência, é um estupro corretivo pra nos mostrar que fomos longe demais ao tornar pública uma agressão de um homem contra uma mulher, porque essas agressões devem permanecer nas esferas privadas, das relações intimas ou do silêncio e do medo, porque é direito do homem agredir uma mulher e é direito dele ser poupado e protegido da reação dela. E se a mulher viola um direito do homem ela vai ser humilhada e punida.

Qualquer mulher que ouse não se calar diante da violência de um homem será humilhada e punida, pra que entenda que deve recuar e pra servir de exemplo para outras.

É isso que acontece nas salas trancadas dos tribunais patriarcais, nos chamados Tribunais de Justiça.

A espada está erguida. A justiça é concebida pelo e para o falo.


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