terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

FEMINILIDADE NÃO É PERFORMANCE II

Observatório do buzão.
(Reflexões no transporte coletivo a caminho do trabalho)

Imaginem um homem chegar numa entrevista de emprego ou em seu primeiro dia de trabalho numa empresa com roupas bem justas que mostrassem bem a forma do seu corpo, inclusive a delineação de seu órgão sexual, peitoral e até mamilos, com a cara toda pintada, lábios, olhos e maçãs do rosto, de forma a simular um constante estado de excitação e disponibilidade sexual ou, ainda, olhos e cílios artificialmente aumentados, gestos e empostação vocal débeis, simulando uma vulnerabilidade infantil, roupas de babadinhos, de coraçõezinhos, bichinhos, imitando a indumentária de uma criança, agora ceis imaginem se esse macho ia ser respeitado ou credibilizado por sua competência profissional?

Das mulheres é esperado que, além de alguma competência no trabalho (isso não é o requisito principal pra conseguir o emprego) elas sinalizem aos homens que estão vulneráveis e sexualmente disponíveis, ou seja, que são prostituíveis, que sua prostituição está inclusa nas relações de trabalho. Elas precisam informar aos homens que dominam o mercado de trabalho que, mais do que ter competência profissional, que elas aceitam essa condição. Se não aceitar, você pode ter a melhor formação do mundo, você não tá empregada - vide lésbicas que não se conformam aos padrões estéticos de feminilidade e não conseguem empregos.

Feminilidade não é sobre sentimentos masculino acerca de batons, maquiagens e vestidos. Feminilidade não é sobre como alguns homens se sentem bem e realizados quando experimentam adereços e rituais criados para controlar, manipular, subjugar e explorar os corpos e subjetividades do sexo feminino. Feminilidade é sobre a hierarquia sexual que ordena a sociedade, é sobre a servidão do sexo feminino ao sexo masculino. Isso é ser mulher.


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