sexta-feira, 17 de julho de 2015

POLÍTICAS AFIRMATIVAS DIZEM RESPEITO A NÓS, A NOSSO COTIDIANO



Equidade é o substantivo feminino com origem no latim aequitas, que significa igualdade, simetria, retidão, imparcialidade, conformidade.

Este conceito também revela o uso da imparcialidade para reconhecer o direito de cada um, usando a equivalência para se tornarem iguais. A equidade adapta a regra para um determinado caso específico, a fim de deixá-la mais justa.




Igualdade e equidade são conceitos diferentes, embora se entrelacem. Não se estabelece justiça e se chega a igualdade aplicando igualdade onde ela não existe, quando estamos partindo de situações desiguais. É preciso aplicar e fazer prevalecer práticas de equidade para que o senso de justiça mal aplicado não alimente, na verdade, as desigualdades. Entendo as ações afirmativas como exercícios e práticas de equidade. Não entendo [quer dizer, entendo sim] como pessoas que são favoráveis, p. ex., às cotas como ações afirmativas, como políticas reparadoras, que compreendem a importância dessas políticas, só são entusiastas delas quando são promovidas por uma instituição distante, por órgãos de autoridade ou políticas públicas oficiais, distantes das nossas relações e práticas mais intimas, mas não compreendem que ações afirmativas se desdobram também em pequenos gestos, em novas formas de sociabilidades. Eu sou uma mulher branca, cheia de privilégios, porque a sociedade concede às pessoas brancas milhões de acessos, espaços e benefícios que, historicamente, têm negado às pessoas negras, sobretudo às mulheres negras. Eu sou uma mulher branca privilegiada e falo, aqui, a outras mulheres brancas privilegiadas como eu. Nós somos privilegiadas e temos que ter noção disso, temos que entender isso e criticar isso. Mas não apenas criticar: temos que agir contra isso, temos que concentrar nossas práticas, desde a militância até nossos gestos em nossas relações mais pessoais, no sentido de transferir nossos privilégios para as mulheres negras, para as mulheres pobres, periféricas, em situação desprivilegiada em relação a nós. Então, as ações afirmativas e as políticas reparadoras não podem ser uma coisa distante de nós, uma instituição política grandiosa que nós achamos que não nos diz respeito e que apenas aguardamos os governos ou órgãos especializados aplicarem através de leis, regras e editais distantes de nós. Ação afirmativa e política de reparação tem que ser TODO DIA, no dia a dia, em todas as esferas de sociabilidade, inclusive - e principalmente! - as minhas.

Não adianta eu aplaudir cota social, cota racial, política pública, se, diante de uma constatação de desigualdade nos meus círculos de relações eu me mantenho isenta de responsabilidades e em silencio. Eu tenho o DEVER ÉTICO, isso precisa ser um IMPERATIVO na minha luta por uma sociedade mais justa e igualitária: fazer políticas afirmativas e de reparação no meu cotidiano. Se eu trabalho com uma mulher em condição de desprivilégio em relação a minha condição, eu vou sim, eu preciso, considerar isso na hora de negociar meu horário, minha escala de folgas, a divisão de tarefas; eu vou sair mais tarde, ceder as folgas, pegar as atividades que possam dificultar ainda mais a vida dessa pessoa, abrir mão daquelas que podem ajudá-la de alguma forma, seja profissionalmente, seja em seu crescimento pessoal. Vou transferir renda para elas quando puder, usar meus privilégios pra conseguir trabalho, pra pensar em estratégias de geração de renda, escolarização, profissionalização ou o que for. Na escola ou na faculdade, vou privilegiá-las em grupos de estudo, horários, prazos de entrega de atividades, empréstimos e doações de livros, enfim, em TUDO que me couber fazer para assumir minhas responsabilidades nos processos sociais que me privilegiam em detrimento de outras mulheres. E isso NÃO é um favor, não é bondade e nem camaradagem, isso é dever ético, é senso de justiça e responsabilidade de alguém que verdadeiramente reconhece seus privilégios e busca ser minimamente coerente com os discursos de justiça e igualdade que propaga em seus círculos de militância. De alguém que realmente reconhece seus privilégios e esta disposto a não apenas desconstruí-los conceitualmente, mas a abrir mão deles na luta com a qual diz se comprometer, por uma sociedade mais justa e menos desigual, perversa e nojenta.

E você, feminista branca que frequentemente reclama da "agressividade" das minas negras, que vive cobrando sororidade e compreensão delas, o que você EFETIVAMENTE faz por aquelas que insiste em chamar de irmãs mas que, na verdade, sempre estiveram em posição de suas escravas a serem exploradas?

Vamos sair do discurso, da internet, do conceitual, das teorias bonitas e começar a agir?

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