terça-feira, 26 de julho de 2016

NÃO NASCEMOS DE JOELHOS. MULHERES, SE LEVANTEM!

Quando a gente nasce, mulher, que nos identificam o sexo feminino, nos dobram os joelhos, com todo cuidado e carinho, diante fo primeiro homem de nossa vida, nosso pai. Com todo carinho, também, cuidam de manter nossos joelhos dobrados, nos ensinando que essa é nossa condição natural, que não podemos os erguer, que não há meios e romper com ela. Nos mostram, também, toda violência e horror destinado àquelasque ousaram contrariar a sua própria natureza e levantar, e nos ensinam que elas são aberrações, aleijadas, defeituosas, que uma mulher estar de pé, e assim caminhar, sem se curvarde joelhos diante de nenhum homem, é um horrorque precisa ser combatido - dentro da gente mesmo, inclusive, dentro de nossos próprios sentimentos e vontades de mulher. Nod apontam que a condição de estar de pé e não se curvar diante de homens é uma condição natural somente a homens e uma mulher não pode ser parecer com um homem, ou ela não é uma mulher de verdade, ela é uma aberração. E, então, durante toda nossa vida eles ns mostram o que acontece com aquelas que ousam tentar se levantar: violências, agressões, estupro, morte, e nos violentam também cada vez que tentamos levantar: nos assustam, nos rememoram dos horrores, nos desqualificam, reduzem, nos roubam a nossa mulheridade e, assim, nos convencem do quanto somos melhores que as outras porque ainda nos mantemos de joelhos.

Assim, permanecemos de joelhos até que nossas pernas atrofiem, que nossa musculatura esteja enfraquecida e acomodada naquela posição curvada, até que já não consigamos mesmo levantar. E então eles nos mostram como essa condição é natural, como a gente não é realmente capaz de se erguer. E, então, eles correm pra apagar todos os registros das violências que usam pra impedir mulheres de se levantar: eles apagam nossos diários, nossas histórias, nossos registros das tentativas que fizemos de nos reerguer; apagam a história de outras que se ergueram e lutaram, reafirmam a trajetória delas como aberrações, como inferiores, ou as reclassificam como homens; eles manipulam nossos sentimentos, classificam nosso sofrimento e nossos desejos por liberdade como loucura, como exagero, como histeria; escrevem teorias e mais teorias afirmando isso, e carimbam essas teorias com seus próprios carimbos da Verdade, a Verdade dos homens. E nos ensinam como, na verdade, eles sao tão bons, são nossos amigos, são protetores e provedores por deatinar seu tempo a cuidar de nós, a nos garantir a vida, o alimento, o cuidado e proteção a criaturas tão frágeis e incapazes como nós, que nascemos de joelhos.

E, então, não temos outra escolha senão aceitar a nossa condição. Aceitar que estar de joelhos é natural, pois que é tão difícil se levantar. Aceitar que estar de joelhos não é exatamente estar de joelhos, não é uma condição estranha a quem tem pernas que podem se desdobrar, mas estar de joelhos é a mesma coisa que ser mulher, que não há duas condições diferentes, mas uma só: a mulher é justamente aquela que se arrasta sobre os joelhos diante dos homens, aquela que não pode se levantar porque ser ajoelhada é o que define uma mulher.

Isso é a educação destinada a quem nasce com uma vagina no patriarcado, isso é a socialização feminina. Isso é o que fazem conosco desde o dia que nascemos e identificam em nós - e em ninguém mais - uma vagina.

Mulheres, nós não nascemos de joelhos. Mulheres, levantem-se. Venham ver o mundo aqui de cima como é bonito. Venham ver como de pé se caminha e luta melhor. Não tenham medo, ergam-se. Não vou mentir, é por vezes bem doloroso, mas não mais do que carregar todo peso do corpo sobre os joelhos, mas não mais do que ter o corpo castigado cada vez que tenta se levantar um pouco, mas não mais do que essas dores que você já se acostumou a suportar. Erga-se e me dê a mão, eu te ajudo a caminhar. E limpo seus joelhos feridos e seu corpo açoitado. E juntas nos apoiamos pra reaprender a caminhar erguidas sobre os nossos pés e a traçar nossos próprios caminhos.

Vem comigo, não tenha medo.

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